terça-feira, 8 de setembro de 2009

CONTEXTO DO NOVO TESTAMENTO

Introdução

Estudar o contexto do Novo Testamento é perceber que os acontecimentos que marcaram a passagem do Velho ao Novo Testamento não ocorreram de uma hora para outra, mas seguiram um percurso histórico que sofreu influência de duas grandes religiões, a saber, o Paganismo e o Judaísmo.

A partir da vinda de Jesus muita coisa mudou na história do povo de Deus, a começar pela implantação de um novo reino não mais baseado nas Leis de Moisés, mas sim no amor a Deus e ao próximo. Se antes o homem acreditava estar cumprindo a vontade de Deus por meio da observância das leis, agora a condição para se fazer a vontade divina é, antes de tudo, ouvir o próprio Verbo Encarnado, a Palavra de Deus que se revelou à humanidade em forma de carne e osso. É claro que essa novidade não viria a ser aceita de imediato por todos, até porque a Boa Nova é proposição e não imposição, mas, a partir da experiência que a humanidade vai tendo com Jesus, a partir também dos sinais realizados, o povo de Deus vai reconhecendo que a restauração de Israel estava mais próxima do que se podia imaginar.

É nesse sentido que nos propomos neste trabalho a refletir sobre o terreno no qual caiu a semente do Verbo, ou seja, o contexto histórico, social, econômico, cultural e religioso no qual o Novo Testamento estava por surgir, com a única finalidade de demonstrar que a voz de Deus não estava ecoando em uma realidade metafísica, mas sim no coração das pessoas que tinham uma história e que dela não podiam prescindir.

O Contexto do Novo Testamento:

No início do cristianismo, mais propriamente nos cem primeiros anos da era cristã, muitos foram os acontecimentos que marcaram a época, possibilitando uma mudança radical no contexto religioso da Palestina. As viagens de Paulo às várias comunidades favoreceram a expansão da pregação cristã, que deixou de ser realizada dentro dos limites do Judaísmo e passou a ter influência também entre o mundo pagão. Sendo assim, para melhor compreender o contexto do Novo Testamento, faz-se necessário analisar o Judaísmo e o Paganismo em sua composição e características próprias.

O Contexto Judaico:

Afirmar que alguém é judeu não significa dizer simplesmente que esse faz parte de uma comunidade política ou de uma raça, mas que participa de uma religião comum que aceita a Lei de Moisés como forma de vida e que manifesta sua religiosidade externamente a partir de três observâncias: a circuncisão, a santificação do sábado e as leis da purificação levítica. O templo era o lugar por excelência para o oferecimento dos sacrifícios. Os cultos eram realizados nas sinagogas e consistiam em orações, hinos, leituras da Escritura e homilias. A sede religiosa era o templo de Jerusalém e esse era o centro de referência que congregava os judeus e os mantinha unidos.

A força unitiva do judaísmo não era a política nem a raça mas a religião. Judeu era, primeiro e antes de tudo, aquele que aceitava a lei de Moisés como um modo de vida. Certas observâncias externas tornaram-se sinais de fidelidade ao judaísmo e, por conseguinte, receberam uma importância que não tinham no Israel primitivo [...] (MCKENZIE, 1972, p. 29).

Para a religião judaica, a observância da Lei era a única forma de se cumprir à vontade de Deus e a Ele estar unido. Deste modo, considerava o Pentateuco o “livro de ouro”, na medida em que ele se constituía de um conjunto de leis, associado à história das origens de Israel. Embora tais leis tratassem das várias questões cotidianas, não se podia afirmar que elas conseguiam normatizar toda a vida do povo judeu, sobretudo porque, na medida em que o tempo passava, o código ia se tornando defasado. Sendo assim, surge a necessidade de existir um grupo responsável por julgar todos os casos que não estivessem explicitamente incluídos nas leis. Aos que pertenciam a esse grupo foi dado o nome de escribas ou doutores da lei, sendo-lhes dada a responsabilidade de refletir, interpretar e aplicar as normas, bem como de julgar os casos não contemplados no “código penal”. A grande questão levantada por Jesus Cristo era quanto à possibilidade de alguém que não cumpre tais preceitos exigir rigidamente a outro o seu cumprimento.

Como conseqüência da diáspora, várias colônias judaicas foram se formando nas cidades que ficam na região do Mediterrâneo Oriental. Um bom número de judeus foi capturado como prisioneiros de guerra, outros fugiam da pobreza existente na Palestina e alguns se instalavam nas cidades, exercendo atividades no comércio, nas funções municipais ou nos vários outros ofícios existentes. Graças à dispersão, podemos identificar dois grupos de judeus que mais se destacaram na época: os judeus palestinianos e os judeus da diáspora. Os primeiros eram mais rigorosos e observavam com mais fidelidade a lei. Os demais, por terem se distanciado dos pilares do judaísmo e por terem entrado em contato com outras culturas, se aproximavam dos gentios, mantendo o culto das sinagogas e o estudo dos preceitos de Moisés, porém sem tanto rigor como o tinham os judeus da Palestina. Os primeiros, embora tivessem sofrido forte influência do helenismo, mantiveram-se fiéis a sua tradição. Os outros, por terem abandonado o rigor próprio de sua religião, parecem ter sofrido mais diretamente a influência da cultura grega.

De certo, os judeus formavam dois grandes grupos, mas, mesmo diante das características existentes em cada um, podemos afirmar que ambos se mantinham unidos e coesos por terem a mesma etnia, os mesmos preceitos religiosos, a mesma moral e a crença em um único Deus (Monoteísmo). A profissão de fé realizada pelos judeus da Palestina era a mesma dos da dispersão e isso motivava a todos a contribuírem com o templo e a se dedicarem com ardor à defesa dos interesses comuns, sobretudo os espirituais.

O povo judeu acreditava na existência de um Deus único, soberano, criador de todas as coisas, santo, justo, misericordioso, que amava os seres humanos, mas agia com justiça para com todos, castigando os que cometiam pecado e recompensando, conforme a sua vontade, aos bons e fiéis a aliança. Deste modo, reconhecendo e acreditando na existência de uma aliança de amor, feita entre Deus e o homem, é que cada indivíduo deveria se esforçar para não quebrar o compromisso sagrado, que visa levar o ser humano a salvação e baseia-se em cuidado da parte de Deus e obediência da parte dos homens.

O contrato realizado entre Javé e Abraão, renovado no tempo de Moisés, inscrito na Torá e nas instituições nacionais, implicava empenhos e obrigações recíprocas: proteção da parte de Deus, fidelidade aos mandamentos da parte do povo eleito. Consciente e ufano desta escolha, Israel se considerava como o arauto e o missionário do Deus-Único que ele servia. Donde a convicção, profundamente enraizada em toda a alma judia, de que a fé monoteísta era o bem próprio de Israel e de que a soberania de Javé não seria estabelecida no universo senão pela dominação do povo eleito sobre todos os reinos do mundo, e que a qualidade de “filhos de Abraão” implicava tantos deveres quantos direitos. Este apego à fé ancestral podia resultar, em compensação, num exclusivismo religioso, ciumento dos privilégios da nação predestinada. (FEUILLET, 1968, p. 33).

Outra crença presente na mentalidade judaica é a da existência dos anjos e dos demônios. São seres espirituais que constituem dois mundos opostos, o do bem e o do mal. Os anjos são espíritos celestes que contemplam a face de Deus e a Ele servem com dedicação e obediência. Eles estão divididos em grupos e classes diferentes, sendo que os três principais são Miguel (proteção), Gabriel (revelação) e Rafael (cura). Já os demônios são seres decaídos, que, por terem se rebelado contra Deus, foram expulsos do paraíso celeste. Seu objetivo é prejudicar o homem, seja espiritualmente, materialmente ou corporalmente. Lúcifer é o chefe dos demônios. Para evitar ser atingido por um espírito impuro, o judeu, frequentemente, rogava a presença dos anjos bons, realizava orações de exorcismo e evitava freqüentar lugares que fossem propícios ao mal.

Quanto ao messianismo, pode-se afirmar que os judeus acreditavam em uma espécie de ação messiânica realizada pelo próprio Deus, com o objetivo de restaurar a Israel e cumprir as promessas feitas a nação escolhida, implantando o reino de Deus aqui na terra e fazendo com que o povo eleito triunfasse sobre seus inimigos. Naquela ocasião, era difícil, para o povo judeu, acreditar em Jesus Cristo como sendo o filho de Deus, até porque, para os que professavam o judaísmo, depositar a esperança em alguém que se dizia filho de Deus, mas que, no entanto, havia nascido em uma manjedoura, do ventre de uma mulher e sem aparentemente nenhum poder e realeza era algo muito difícil. Aliás, a cruz era sinal de escândalo e “não se concebia o comparecimento de um Enviado celeste senão sob forma de um triunfo deslumbrante e absoluto da justiça e do poder de Deus”. (FEUILLET, 1968, p. 39).

Quanto à vinda do Messias, expressa Feuillet:

Fenômenos terrificantes serão os sinais anunciadores da vinda próxima do Messias. O profeta Elias retornará para preparar os caminhos do enviado de Deus. O Messias aparecerá enquanto os exilados reconquistarão a Palestina. Os poderes do mal se erguerão contra o Ungido e serão desbaratados por Ele. A cidade de Jerusalém será purificada e o Príncipe da paz nela instalará o seu trono. Os mortos ressuscitarão e Deus julgará os bons e os maus. A era da felicidade messiânica começara para os justos: será, então, a idade de ouro verdadeira sobre uma terra renovada. (1968, p. 40).

Com o intuito de cumprir a vontade de Deus, os judeus procuravam obedecer aos 613 preceitos existentes na Torá. Isso porque consideravam-na a máxima expressão da vontade divina, manifestada a Moisés e recomendada a todo o povo escolhido. Respeitar a Torá era sinal de grande respeito, amor e obediência a Deus. Era reconhecer também a grandeza do amor de Deus pelo homem. Por ser Palavra divina é que ninguém ousava tirar ou acrescentar nada ao que estava escrito, até porque, para eles, a Escritura Sagrada era uma espécie de personificação da divindade, que gerava vida naqueles que a conheciam e a colocavam em prática.

Contudo, embora a Torá fosse Palavra Eterna de Deus, nem todos conseguiam compreendê-la, necessitando assim de alguém que a conhecesse e sobre ela pudesse se debruçar para estudá-la, interpretá-la e transmiti-la com mais clareza ao povo de Deus. É aqui que surge a figura do sacerdote como representante da tradição e como interprete da Palavra.

Havia nos judeus um grande sentimento religioso que os levava a dedicar parte de seu tempo a oração, pessoal e comunitária, ao jejum e às obras de misericórdia. A prece privada, nome dado a oração pessoal, era realizada de forma espontânea e livre, permitindo ao fiel a elaboração de suas próprias orações de acordo com suas necessidades. As orações comunitárias eram realizadas nas sinagogas em horários pré-determinados, tendo como fonte inspiradora os salmos. Já o jejum era visto como uma forma de se humilhar diante de Deus, a fim de reparar o pecado cometido e/ou alcançar alguma graça especial. Por fim, as práticas de misericórdia consistiam em hospitalidade, cuidado para com os enfermos, auxílio aos órfãos, dentre outras.

O templo representava o centro da vida do povo judaico. Era nele que todos, até mesmo os judeus que viviam espalhados fora da Palestina, se reuniam para prestar culto a Deus. O Templo era a casa onde habitava o Deus único, santo, puro. Assim podemos perceber o poder que os sacerdotes tinham sobre o povo, sendo estes quem administrava o Templo e também por considerarem que estavam mais perto de Deus, e consequentemente eram eles os mais puros. A autoridade dos sacerdotes acabou transformando o Templo não só no centro da vida religiosa, mas também da vida política e econômica. É por isso que no tempo de Jesus o Templo possuía riquezas imensas, o Tesouro Nacional, e toda a cúpula governamental agia a partir do Templo. Desse modo, a morada de Deus se transformou num lugar de poder. Quando Jesus expulsou os comerciantes do Templo, estava, na verdade, atacando o alicerce da sociedade judaica.

O Templo era o lugar de culto e o povo freqüentava, principalmente por ocasião das grandes festas. Na vida comum, porém, o centro religioso era constituído pela sinagoga, presente até mesmo nos menores povoados. Era o lugar onde o povo se reunia para a oração, para ouvir a Palavra de Deus e para a pregação, explicando o texto e relacionando-o com outros textos. Pelos Evangelhos sabemos que pelo menos uma vez Jesus, que era leigo, se apresentou para fazer a leitura do texto e interpretá-lo.

Jesus voltou então para a Galiléia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a região circunvizinha. Ensinava nas sinagogas e era glorificado por todos. Ele foi a Nazaré, onde fora criado, e, segundo seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; desenrolou-o, encontrando o lugar onde está escrito [...] Enrolou o livro, entregou-o ao servente e sentou-se. Todos na sinagoga olhavam-no atentos. Então começou a dizer-lhes: “hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da escritura”. Todos testemunhavam a seu respeito, e admiravam-se das palavras cheias de graça que saíam de sua boca. (Lucas 4, 14-22).

O sacerdote não tinha uma função especial na sinagoga, porque esta não era o lugar de culto litúrgico. Embora qualquer adulto pudesse presidir a reunião, nem todos o faziam, ou por serem analfabetos ou por não se julgarem preparados para um comentário. As reuniões acabavam então sempre animadas pelos escribas e fariseus que, cada vez, propagavam mais suas idéias e aumentavam sua influência sobre o povo, adquirindo prestígio cada vez maior. Em Jerusalém, algumas sinagogas tinham até hospedaria e instalação de banheiros para peregrinos. Até hoje as sinagogas são casas de oração e reunião dos judeus espalhados no mundo.

No tempo de Jesus, três festas exerciam um papel importante - Páscoa, Pentecostes, e Tendas. São as festas de peregrinação em que o povo se reunia para manifestar a solidariedade, a união, e para celebrar os grandes feitos do Senhor, libertador do seu povo. Cada uma delas durava uma semana inteira e vinha gente de todos os lugares. Os peregrinos de várias aldeias viajavam até Jerusalém em caravanas para evitar assaltos ou surpresas desagradáveis. Na festa da Páscoa se celebrava a libertação da escravidão do Egito, além de outros acontecimentos da história. Foi durante essa festa que Jesus instituiu a Eucaristia, foi preso e morto. Ele é o autêntico cordeiro de Deus.

Na festa de Pentecostes, celebrada 50 dias após a Páscoa, era o momento de renovar a Aliança que Deus fizera com o seu povo no monte Sinai. Na festa das Tendas, cada família construía nos arredores de Jerusalém uma cabana de folhagens, na qual morava por uma semana, relembrando os antepassados que moraram em cabanas quando saíram do Egito. À noite, acendiam-se candelabros de ouro no Templo e o povo saia em procissão levando tochas, iluminando assim a cidade inteira.

Antes de passarmos ao contexto pagão, verificaremos agora de modo sucinto os principais grupos religiosos existentes no judaísmo da época de Jesus:

1.1 – Escribas: Grupo de letrados que possuía autoridade e prestígio diante da função que exercia na sociedade. Eram os doutores da Lei; aqueles que cuidavam da reflexão moral e do direito. Eram guias espirituais do povo, influenciando e determinando até as regras que dirigiam o culto. Seu grande poder residia no saber, pois eram especialistas na interpretação da Sagrada Escritura. Como a Escritura era a base da vida do povo judaico, os escribas acabavam se tornando especialistas em direito, administração e educação.

1.2 – Fariseus: Grupo dos separados, dos opositores, daqueles que presavam pela observância da lei, pela santificação e pela pureza ritual. Tal grupo procurava ser fiel a conservação do sábado como dia do Senhor, ao pagamento do dízimo sagrado e a busca de uma espécie de pureza interior. Por se apegarem a lei, comumente, atribuíam fardos pesados aos outros, quando nem eles mesmos eram se quer capazes de carregá-los. Mesmo assim, gozavam de grande estima por parte da população, que via neles um modelo de zelo religioso e de dignidade moral.

1.3 – Saduceus: Em sua maioria eram provenientes de famílias ricas e sacerdotais, embora admitissem a presença e participação de membros de outras classes sociais. Era um grupo pequeno, mas de muita influência. Dele provinham os Anciãos, isto é, aqueles que controlavam a administração da justiça no tribunal supremo, chamado Sinédrio; do mesmo grupo provinha também a elite sacerdotal, que administrava o Templo e era responsável pelo culto. Os saduceus, portanto, concentravam em suas mãos todo o poder político. Sendo assim, não eram muito bem vistos pelo povo, até porque eram conservadores e aceitavam somente a lei dada a Moisés e expressa no Pentateuco, desprezando os demais livros do Antigo Testamento.

1.4 – Essênios: Era uma espécie de grupo monástico. Viviam em comunidade, exercendo a partilha dos bens e cultivando a fraternidade como forma de tornar a comunidade forte e unida. Mantinham uma espécie de comunidade em Qumrã, esforçando-se por preservar as tradições de pureza religiosa e moral do Antigo Testamento. Alguns viviam uma continência sexual por meio do celibato, embora alguns manuais deixem claro a existências de membros que se davam em casamento, como forma de preservar a espécie.

Além dos grupos acima citados, poderíamos falar ainda dos Zelotas, dos Herodianos e dos Samaritanos, que embora não sejam judeus, tiveram grande influência no contexto religioso do novo testamento. Contudo, como nosso objetivo não é fazer uma explanação aprofundada dos grupos étnicos, religiosos, políticos e sociais da época, concluiremos aqui essa breve apresentação, a fim de prosseguir o nosso trabalho.

O contexto Pagão:

Se foi difícil para o cristianismo adentrar na cultura Judaica, que possuía características semelhantes, imagine na cultura pagã, que se apresentava com particularidades completamente distintas das do cristianismo. A começar pela prática do politeísmo e pela existência de uma espécie de sincretismo religioso. Ainda assim, diante da religiosidade manifestada pelo povo pagão, não se pode desprezar a riqueza cultural e de tradição existentes nesse outro tipo de religião.

A religião grega era politeísta, atribuindo a cada deus uma função ou ocupação específica. O homem helenista preocupava-se apenas consigo mesmo e deixava de lado as questões relacionadas ao bem comum. Sua vida consistia em agradar aos deuses para deles receber favores e não ser alvo de sua ira. É nesse contexto que se valoriza o oráculo, como lugar apropriado para ouvir o destino dos fiéis, e a religião adquire uma dimensão de mistério, sobretudo por meio do culto aos mortos e da crença na eudaimonia.

A religião do helenismo tardio caracteriza-se pela fascinação ante forças obscuras que regem o destino do universo perante as forças da natureza e as do mundo subterrâneo que se impõem implacavelmente ao homem, ante as forças de destruição e de morte. Como consciência disso têm grande influência na piedade popular as crenças e as práticas que permitem controlar a influência destas forças ocultas na vida do homem. (ECHEGARAY, 2000, p. 340).

A fé existente no povo pagão fazia com que ele acreditasse em curas milagrosas, realizadas pelos deuses. O processo de concessão da cura fazia com que os fiéis recorressem ao templo, uma vez que, para ser curado, cada indivíduo deveria passar uma noite no lugar sagrado, a fim de ouvir as orientações dadas pelos deuses durante o sono. Associada a essa prática, estava também a ingestão da água sagrada, encontrada no templo. E isso não era o suficiente, pois os pagãos acreditavam no poder da magia, enquanto ações que canalizavam as energias e as forças demoníacas para o bem, na astrologia e na adivinhação, como forma de revelação divina.

Outro fator importante, presente na cultura pagã, era o culto imperial destinado aos imperadores. Partindo do pressuposto de que toda autoridade provinha dos deuses, o povo pagão obedecia e reverenciava cegamente ao representante do império. O que nos leva a pensar em quantas barbaridades foram cometidas, utilizando-se deste elemento como forma de legitimação do poder.

A religião mistérica tinha por objetivo ligar o homem a divindade. Para isso, era necessário que os pagãos passassem por ritos de iniciação que favorecessem a comunhão do ser humano com o ser divino e assim o homem recebesse a salvação. Já o gnosticismo defendia a tese de que, para ser salvo, cada indivíduo deveria trilhar o caminho do conhecimento e só assim ele poderia retornar as origens, conhecendo o mistério que existe a partir da queda: “a alma origina-se nas esferas celestes, porém é enganada pela libido e cai através das sete esferas celestes, cada uma das quais arranca-lhe uma de suas propriedades, até encerrar-se no corpo que lhe serve de cobertura”. (ECHEGARAY, 2000, p. 346).

Conclusão:

Antes de adentrar no estudo do novo testamento, é importante conhecer o contexto cultural, social, político e, sobretudo, religioso no qual estava inserido o nascer da nova religião. Alias, não podemos esquecer que a igreja nascente recebeu a missão do próprio filho de Deus de anunciar o evangelho a toda criatura, sendo, portanto, necessário um conhecimento amplo das demais religiões existentes na época de Jesus e da origem do cristianismo.

Nota-se claramente a partir desse estudo que o cristianismo precisou “dialogar” seriamente com o judaísmo e com o paganismo. Visto que, essas duas religiões influenciavam de forma decisiva a vida das pessoas da época de Jesus. Essa não foi uma relação tão fácil de ser posta em prática, até porque, pensemos em religiões que não nasceram da noite para o dia, mas que tinham séculos e séculos de história, uma baseada no Antigo Testamento, mais propriamente na Torá, outra alicerçada no pensamento grego que durante muito tempo perdurou na história da humanidade.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi oferecer, em linhas gerais, um conhecimento sobre o contexto no qual surgiu o cristianismo e a situação religiosa das regiões habitadas pelo povo de Deus e pelos greco-romanos. Todavia, não se abordou todos os aspectos com profundidade, mas preocupou-se apenas em dar uma pincelada, de modo a suscitar na mente dos leitores o desejo de aprofundar tal conteúdo. Deste modo, espera-se que este trabalho seja uma fonte segura de pesquisa para os que desejarem conhecer o cristianismo em sua origem e relação com as demais religiões.

Bibliografia:

ADAN MAURICIO. Acadêmico do curso de Teologia do Seminério Maior Nossa Senhora da Conceição.

Bíblia de Jerusalém. Ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Paulus, 2003.

Bíblia Sagrada Africana. Moçambique: Paulinas, 2004.

BRIGHT, John. História de Israel. 3ª Ed. São Paulo: Paulinas, 1978. Nova Coleção Bíblica, 7.

ECHEGARAY, J. González e outros. Introdução ao Estudo da Bíblia: A Bíblia e seu Contexto. 2ª Ed. V.1. São Paulo: Ave-Maria, 2000.

FEUILLET, Robert. Introdução a Bíblia: Novo Testamento. V.3. São Paulo: Editora Herder, 1968.

MCKENZIE, John L. S.J. Os grandes temas do Novo Testamento. Rio de Janeiro: Vozes, 1972.

3 comentários:

Anônimo disse...

Agradeço a Deus pela vidas de cada um que se colocou pra nós ajudar nesse seminário e que Deus abençoe sempre

Renan Patrocinio disse...

Benção!

Gabriela Portella disse...

Bênção!!!