terça-feira, 20 de maio de 2014

É UM ABSURDO CRER NA RESSURREIÇÃO?

À tarde desse mesmo dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas onde se achavam
os discípulos, por medo dos judeus, Jesus veio e, pondo-se no meio deles, lhes disse: "A paz esteja convosco!"
Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, ficaram cheios de alegria por verem o Senhor. Ele lhes disse de novo: "A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, também eu vosenvio". Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: "Recebei o Espírito Santo.Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos". Um dos Doze, Tomé, chamado Dídimo, não estava com eles, quando veio Jesus. Os outros discípulos, então, lhe disseram: "Vimos o Senhor!" Mas ele lhes disse: "Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não puser meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei". Oito dias depois, achavam-se os discípulos, de novo, dentro de casa, e Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: "A paz esteja convosco!" Disse depois a Tomé: "Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos. Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê! Respondeu-lhe Tomé: "Meu Senhor e meu Deus!" Jesus lhe disse: "Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram!"

João 20,19-29

            A ressurreição de Jesus é o fundamento da nossa fé e consequentemente da nossa esperança. A crença nessa verdade nos é assegurada pela evidência objetiva imediata que os apóstolos tiveram com o Ressuscitado. Por isso, a ressurreição não é uma opinião, não é uma incerteza (dúvida) e muito menos um erro, ela é uma certeza. Suas mentes alcançaram o estado psíquico perfeito:  o descanso da mente na verdade! Desse modo nossa fé na ressurreição não é algo absurdo, pois está fundamentada na evidência das testemunhas da ressurreição escolhidas pelo próprio Cristo. Por perpassar o tempo e o espaço, o conteúdo de nossa fé é motivo de esperança para todos os homens em todas as épocas e lugares.
            Nossa mente pode ter vários estados psíquicos diante da verdade que nos é apresentada, ou seja, sobre a realidade. Os estados são: a certeza, a dúvida, a opinião, o erro e a fé. Isso se deve ao critério, ou melhor, ao fundamento último de nossos juízos: a evidência objetiva imediata. Ela acontece quando percebemos a coisa como ela é, ou seja, não somos livres para perceber ou não, é evidente, mesmo que não aceitemos. Essa evidência é possível devido à objetividade dos sentidos, nunca duvidamos quando percebemos. Podemos errar no juízo (ato da inteligência), mas não na percepção. Por isso a evidência é o fundamento último de nossa certeza. Só afirmamos algo quando estamos seguros, ou seja, nossa mente só descansa quando tem certeza, quando encontra a verdade que, segundo Santo Tomás, é a adequação da mente a realidade (cf. Suma teológica I.q,16.a,2). Por ser o descanso do homem ao encontrar a verdade, a certeza é o estado psíquico perfeito da mente. Tal estado será pleno apenas na eternidade quando nos encontrarmos com a Verdade absoluta: Deus.
            Os outros estados são considerados imperfeitos. A opinião é o estado da mente que, por falta de uma evidencia objetiva, possui alguns critérios apenas prováveis para aderir à determinada posição. Ela assume um juízo não categórico, pois aceita a possibilidade do contrário também ser verdade. Por isso, as opiniões sempre estão marcadas pelas seguintes expressões: “eu penso”; “eu acho”, etc. É o chamado relativismo. Já a dúvida acontece quando diante da falta de evidência preferimos suspender o juízo, ou seja, diante dos critérios prováveis, que são contraditórios, não tomamos uma posição por medo de errar. É o chamado ceticismo. O terceiro estado imperfeito é o erro, esse como os demais, é fruto também da falta de evidência. Acontece quando afirmamos como verdadeiro algo que não condiz com a realidade. É conseqüência da chamada ignorância intelectual. Como a mente humana por si mesma procura a certeza, o erro é um acidente.
            Mas, há um estado da mente, que embora não venha de uma evidência que tivemos, está presente em muitos de nossos juízos cotidianos: a fé. Ela é o firme assentimento da inteligência que se inclina para afirmar alguma coisa absolutamente e sem reservas, motivada pelo testemunho e a credibilidade de uma autoridade. Porém, a crença no testemunho dado não é algo sem fundamento: nós cremos porque o outro teve a evidência imediata, ele viu, ouviu, tocou etc, ou seja, ele experimentou. A fé é um ato livre da inteligência que descansa na certeza testemunhada. Aqui não nos deteremos na fé quanto dom de Deus para o homem, isso nos custa outra e grande reflexão.
            Porém, devemos nos perguntar qual a relação disso com a passagem do Evangelho Segundo São João citado acima. Sigamos a narração evangélica. No início, os discípulos têm a primeira experiência com o ressuscitado. Eles vêem e ouvem o Senhor. Têm uma evidência com Aquele que há três dias havia sido colocado no sepulcro: têm a evidência de que Ele ressuscitou.
            Nessa primeira aparição ao grupo dos discípulos, um deles não está presente, o chamado Dídimo, Tomé. Ele é um exemplo claro de uma mente duvidosa, sem descanso, ou seja, em um estado imperfeito. Quando chega e é notificado pelos outros que o Senhor lhes apareceu, ele duvida porque não teve a evidência e os motivos para acreditar são iguais aos que o motivam a desacreditar, são critérios prováveis. E diz “se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não puser meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, eu não crerei” (Jo 20, 25). Tomé não acredita nos testemunho dado pelos companheiros, não tem fé.
            Os versículos que seguem nos mostram uma segunda evidência. Jesus aparece oito dias depois e agora Tomé está presente. O Senhor dirigindo-se a ele diz: “Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos. Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê” (Jo 20, 27). O Senhor convida Tomé a ter uma evidência que os outros ainda não haviam tido: tocar o corpo do Senhor. Não qualquer parte do corpo, mas aquelas que trazem as marcas da crucifixão, ou seja, aquelas que demonstram que o Senhor ressuscitou com o mesmo corpo crucificado e a ressurreição não é a experiência de uma consciência coletiva, mas uma presença concreta, real.
            Os outros viram e ouviram. Tomé viu, ouviu e tocou: verdadeiramente é o Senhor, é “o meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 28). Portanto, a ressurreição não é a opinião de um grupo como pensavam os religiosos do tempo de Jesus, também não é um erro, algo fora da realidade, como pensava os romanos com suas filosofias. Hoje, não temos a evidência que os apóstolos tiveram, mas temos a fé no testemunho deles, que é fruto de uma evidência.
            É interessante observarmos, também, que antes da aparição do Ressuscitado os discípulos estavam reunidos as portas fechadas por medo dos judeus, mas logo depois, aquele grupo, onde a maioria se escondeu na hora da paixão, são tomados por uma ousadia e coragem desmedida. Basta conferirmos o primeiro discurso de São Pedro após Pentecostes dirigido aos judeus, antes temidos (cf. At 2, 14-41). A mudança de comportamento é algo surpreendente. Isso mostra que depois da Paixão os discípulos tiveram uma experiência muito profunda e evidente com Aquele que seguiam. A certeza da ressurreição é tão forte que não passa despercebida a quem ler os Atos dos Apóstolos com atenção.
            Podemos afirmar, ainda, que a evidência que estes tiveram foi tão profunda, que a certeza que dela nasceu transformou totalmente a vida deles, tanto que nenhum abandonou essa certeza, apesar das perseguições. Mas, pelo contrário, pregaram-na com grande intrepidez, transmitindo-a a todo o mundo. Uma opinião, um erro ou uma incerteza não resiste a tantas provações, só a certeza, pois ela é a posse da verdade. Por isso, se torna possível fazer uma apologia coerente sobre a verdade da ressurreição de Cristo confirmando o que diz o autor do livro dos Atos dos Apóstolos de que Jesus “apresentou-se vivo depois de sua paixão, com muitas provas incontestáveis” (At 1,3).
            O corpo do Ressuscitado está fora da temporalidade e da espacialidade, logo o conteúdo da fé, a evidência, também está. Não pode ser verificado pelo método científico moderno nem pela filosofia positivista tão presente em nosso tempo. Os critérios dessa ciência e dessa filosofia, o ver para crer, têm tornado o homem cético, duvidoso, relativista e propício ao erro principalmente quando se refere ao evento da ressurreição. Ela é um mistério, pois a mente humana em sua limitação não pode abarcar tão grande verdade, porém isso não significa que não temos critérios evidentes para crermos. Porém, somente na eternidade poderemos descansar plenamente na Verdade, que já contemplamos nesta vida por meio da fé.
Somos felizes por crermos sem ter visto, por fazemos um ato livre da inteligência diante dessa verdade evidenciada e transmitida a nós. Ela alimenta nossa esperança, pois segundo o testemunho do evangelista São João, as portas do lugar onde os discípulos estavam se encontravam fechadas, mas assim mesmo o Senhor entra, já não há limites. O Ressuscitado está fora do tempo e do espaço, por isso não há época, não há lugar onde sua presença não se faça, mesmo depois da ascensão. Presença não duvidosa, não opinável, muito menos errada, mas uma presença credível por meio da fé fundamentada na certeza, na evidência das testemunhas escolhidas pelo Cristo, ou seja, seus apóstolos. Portanto, viver já não é mais algo absurdo, há esperança, pois Aquele que nos prometeu a eternidade vive para sempre.











Manoel Messias Dias Santos
Seminarista da Diocese de Estância-SE
1° ano de Teologia

sexta-feira, 8 de abril de 2011

CHINA: ORDENADO BISPO COM APROVAÇÃO DE ROMA E PEQUIM

Diocese de Jiangmen estava vacante desde 2007
Cerca de 1.500 fiéis participaram ontem, em Jiangmen, da primeira ordenação episcopal na China desde a ordenação ilícita do Pe. Joseph Guo Jincai como bispo de Chengde, em novembro passado.

O Pe. Paul Liang Jiansen, 46 anos, foi ordenado bispo de Jiangmen com a aprovação do Papa e o reconhecimento do governo, segundo informa a ‘Union of Catholic Asian News'. A ordenação episcopal foi realizada na Catedral do Imaculado Coração de Maria, em Jiangmen, na zona meridional da província de Guangdong.

As relações entre a China e o Vaticano se esfriaram no ano passado, após a ordenação episcopal ilícita de novembro e a participação forçada na VIII Assembleia de Representantes Católicos Chineses.

A Assembleia foi convocada para eleger os líderes das duas organizações que dirigem a Igreja Católica Nacional Chinesa, ambas sem a aprovação papal. Uma delas é a assembléia dos bispos chineses e a outra, a Associação Patriótica, o grupo que aprova todas as práticas religiosas do país.

Os católicos que não acatam as decisões da Associação Patriótica formam a Igreja "subterrânea" ou "clandestina", fiel ao Bispo de Roma.

Mais de 40 bispos e sacerdotes concelebraram a Missa de ordenação de Dom Liang, e a catedral e o átrio estavam lotados, segundo ‘UCANews'. Centenas de fiéis acompanharam a ordenação por meio de telões colocados fora da igreja.

O prelado confessou à agência ‘AsiaNews' que estava "aliviado" e se sentia "apoiado" pelo fato de que a liturgia foi realizada sem nenhum incidente. Todo o clero que participou da cerimônia está em boas relações com a Santa Sé.

"A minha cruz é pesada - reconheceu ele -, mas confio no Senhor para que me proteja e me ajude no ministério episcopal."

O bispo afirmou que suas prioridades incluem a formação espiritual dos sacerdotes e freiras, assim como dos leigos. "Na Páscoa, haverá cinco ou seis novos batismos", acrescentou.

A diocese de Jiangmen estava vacante desde 2007, quando Dom Peter Paul Li Panshi morreu, aos 95 anos.

A diocese tem cerca de 20 mil católicos, especialmente nas cidades de Foshan, Jiangmen e Zhongshan, e em 20 áreas rurais. Seus 7 sacerdotes e cerca de 20 religiosos devem falar três idiomas - cantonês, mandarim e hakka - para realizar seu trabalho pastoral.

A diocese acolhe o Santuário de Shangchuan, que comemora a morte de S. Francisco Xavier, em 1552. Dom Liang revelou que seu escudo tem a imagem deste santo e a de Matteo Ricci.

Liang Jiansan nasceu em 1964 e foi batizado em 1985. Foi ordenado em 1991 e trabalhou na diocese de Jiangmen desde 1995. Ele foi nomeado vigário geral da diocese pelo seu antecessor, Dom Li, e eleito bispo de Jiangmen em novembro de 2009.

DOIS SACERDOTES E UM SEMINARISTA CONQUISTAM A FRANÇA COM SUA MÚSICA

"Les Pretres" (Os Sacerdotes) é o nome do novo fenômeno musical francês integrado por dois sacerdotes e um seminarista que interpretam temas clássicos e populares enquanto arrecadam recursos para obras de caridade católicas.

Seu primeiro disco "Spiritus Dei" vendeu 800 mil cópias e foi o segundo mais vendido da França no ano 2010. No próximo 25 de abril lançarão ao seu mercado sua segunda produção titulada "Glória" em meio de grande expectativa.

O trio é uma criação do Bispo de Gap e Embrun, Dom Jean-Michel di Falco, que escolheu os sacerdotes Jean-Michel Bardet, pároco da Catedral de Gap e ex-aluno do Conservatório de Lyon, Charles Troesch, capelão da Basílica de Nossa Senhora de Laus e ex-integrante dos Meninos Cantores da Cruz de Madeira, e o seminarista Gap, Nguyen Dinh Nguyen, autodidata, músico e cantor.

O Bispo admite que buscou repetir o êxito do grupo irlandês The Priests com o fim de financiar obras caridosas e transmitir a Deus mediante a música.

O grupo obteve um êxito total. As vendas de 800 mil exemplares do primeiro disco foram usadas para construir uma escola em Madagascar que atenderá 17 mil meninos africanos; e restaurar o santuário de Nossa Senhora de Laus, no lugar da última aparição Mariana reconhecida oficialmente pela Igreja Católica.

Os cantores viajaram a Madagascar para iniciar os trabalhos de construção da escola e se prevê que a capela de Laus seja reinaugurada no próximo 1º de maio totalmente restaurada.

Com "Spiritus Dei", o grupo ofereceu uma excursão com apresentações na França e no exterior. Este novo disco já tem 12 concertos programados entre maio e novembro.

"Recebemos muitas cartas de gente dizendo que este disco tinha feito-lhes bem, os havia dado paz", afirmou Dom Falco Leandri conforme informa o site da diocese de Gap.

"Os 17 concertos que oferecemos na França e no exterior foram momentos de comunhão, de paz, alegria, comodidade, felicidade. Reunimo-nos com mais de 25 mil pessoas".

"Glória" inclui adaptações de melodias clássicas e algumas das canções favoritas dos franceses. O disco inclui versões do Lago dos Cisnes de Tchaikovsky e o Hino à Alegria de Beethoven com letras escritas por Dom di Falco.

GIBI DO PAPA MOSTRA QUE IGREJA "NÃO TEME" A MODERNIDADE

Jonathan Lin, Diretor da Atiqtuq, a companhia produtora do gibi ao estilo mangá "Habemus Papam" que conta a vida de Bento XVI desde sua eleição, assinalou que este projeto mostra que "a Igreja não teme a modernidade nem a cultura em mudança".

Em declarações aos organizadores da JMJ Madrid 2011 onde serão distribuídos 300 000 exemplares do gibi em inglês e castelhano, Lin assinala que este tipo de formato "é considerado uma das exportações mais bem-sucedidas do Japão".

"O mangá cobre uma grande quantidade de temas e muitos gêneros. Queremos usar o mangá como uma ferramenta para mostrar aos jovens e ao mundo que a Igreja não lhe teme a modernidade nem a cultura que muda", disse.

Além disso, acrescentou, a Igreja "não teme usar, neste caso, novas formas de meios para chegar aos jovens ali onde se encontrem".

O gibi, escrito por Gabrielle Gniewek, um estudante da John Paul the Great University (JP Catholic) de San Diego, Califórnia, Estados Unidos, busca "apresentar o Papa Bento XVI àqueles que poderiam não saber muito sobre ele, exceto que é a cabeça da Igreja Católica".

A idéia de fazer um gibi sobre o Santo Padre surgiu porque este estilo "experimentou um crescimento explosivo em todo mundo, com milhões de crianças e adultos fazendo-se fãs deste modo de apresentar as coisas que se originou no Japão".

"Habemus Papam" foi apresentado dias atrás em Madrid. Conta a vida do Papa desde que foi eleito como Sucessor de São Pedro de uma "maneira novidadeira, diferente e atrativa".

Jonathan Lin disse também que o objetivo do gibi é "chegar a muita gente em um formato atrativo para transformar nossa cultura e despertar o interesse no Papa (sua relação com João Paulo II) e sua mensagem aos jovens".

A ÉTICA ABORTISTA


Os argumentos pela vida não são apenas religiosos Por padre John Flynn, L.C.


Os defensores do direito ao aborto costumam criticar os que apoiam a vida por supostamente tentar impor suas crenças religiosas aos demais. Ainda que a religião proporcione ao debates sólidos argumentos, estes não são apenas religiosos, como destaca um livro de recente publicação.

Christopher Kaczor, em ‘The Ethics of Abortion: Women's Rights, Human Life and the Question of Justice’ (A Ética do Aborto: Direitos das Mulheres, Vida Humana e a Questão da Justiça) (Editora Routledge), toma uma postura filosófica perante o aborto e explica por que não é justificável.

Um dos pontos chave que Kaczor enfrenta é: quando se começa a ser pessoa. Alguns defensores do aborto sustentam que se pode distinguir os humanos das pessoas. Um exemplo dado é o de Mary Anne Warren, que oferece critérios para se levar em conta antes de dizer de alguém que ele é uma pessoa.

Ela propõe que as pessoas têm consciência dos objetos e dos acontecimentos e a capacidade de sentir dor. Têm também a força da razão e a capacidade para atividade auto-motivada, junto à capacidade de comunicação.

Como resposta a tais argumentos, Kaczor assinala que, usando tais critérios, seria difícil sustentar razões contra o infaticídio, posto que um bebê recém-nascido não cumpre tais critérios.

Por outro lado, não deixamos de ser pessoas quando estamos dormindo ou sedados em uma operação cirúrgica, ainda que nesses momentos não sejamos conscientes nem estejamos em movimento. De igual forma, quem sofre de demência ou os deficientes não satisfazem os critérios de Warren para ser pessoas.

Uma questão de lugar


Outro posicionamento para justificar o aborto é o que se baseia na localização, quer dizer, se se está fora ou dentro do útero. Kaczor afirma que a pessoa vai muito além da simples localização. Se admitimos este argumento, segue-se que, quando há uma fecundação artificial fora do útero, o novo ser teria o status de pessoa, mas logo o perderia quando fosse implantado, voltando a ganhá-lo quando saísse do útero.

Há também casos de cirurgia fetal aberta, procedimento em que o feto humano é extraído do útero. Se determinarmos o ser pessoa por uma existência fora do útero, nos veríamos na inverossímil situação de que em tais casos o feto é uma ‘não-pessoa’, que depois passa a ser ‘pessoa’, para depois voltar a ser ‘não pessoa’, já que retorna ao útero, para depois tornar-se ‘pessoa’, quando nascer.

Excluindo portanto a localização como critério para ser considerado pessoa, Kaczor discute a questão de se a condição de pessoa se estabelece em algum ponto entre a concepção e o nascimento. Ele observa que a viabilidade, quer dizer, se o feto no útero é potencialmente capaz de viver fora do ventre materno, era citada pelo Supremo Tribunal dos EUA no processo ‘Roe v. Wade’ como um modo de determinar se os fetos humanos merecem alguma proteção legal.

Contudo, segundo Kaczor, esta postura tem seus problemas. Por exemplo, os gêmeos unidos dependem em ocasiões um do outro para viver e, ainda assim, ambos são considerados pessoas.

A viabilidade também estabelece um problema, porque nos países ricos, com avançados cuidados médicos, os fetos se tornam viáveis antes que nos países pobres. E os fetos femininos são viáveis antes que os masculinos. As diferenças de sexo e de riqueza deveriam influir em quem é pessoa ou não?

Outra ideia é considerar que a capacidade de sofrer dor ou desfrutar do prazer é o que poderia marcar o começo do direito à vida, continua Kaczor. Isso tampouco é suficiente, pois exclui os que estão sob anestesia ou em coma. Ademais, alguns animais têm esta capacidade.

Ética ‘gradual’

A resposta pró-abortista às críticas anteriores adota a forma do ponto de vista ‘gradual’. Kaczor explica que isso consiste em sustentar que o direito à vida aumenta em força de modo gradual conforme se desenvolve a gravidez, e quanto mais similar um feto é de uma pessoa como nós, maior proteção deveria ter.

No entanto, Kaczor observa que há uma diferença entre o direito à vida e o restante dos direitos. Há restrições de idade para votar, dirigir ou ser eleito para um cargo público. Isso acontece porque o direito em questão exige uma capacidade para assumir as responsabilidades implicadas.

Pelo contrário, o direito à vida não contém implicitamente nenhuma responsabilidade e, por isso mesmo, pode ser desfrutado sem ter em conta a idade ou as capacidades mentais.Outro problema da postura ‘gradual’ é que o desenvolvimento humano não termina com o nascimento. Se o status moral se vincula ao desenvolvimento psicológico, matar alguém de 14 anos iria requerer uma justificativa maior que matar um de 6.

Kaczor afirma que o erro desses argumentos nos leva à conclusão de que, se não há diferenças eticamente relevantes entre os seres humanos em suas diversas etapas de desenvolvimento que faça com que alguém não seja uma ‘pessoa’, a dignidade e o valor de uma pessoa não começa depois de seu nascimento, nem em momento algum de sua gestação. Todo ser humano é também uma pessoa humana.

A história nos apresenta muitos exemplos da necessidade de respeitar todo ser humano como pessoa portadora de dignidade. Kaczor argumenta que em teria ninguém atualmente, ao menos no Ocidente, defenderia a escravidão, a misoginia ou o antissemitismo.

A pessoa começa com a concepção?

Segundo Kaczor, essa questão não é a princípio moral, mas científica. Ele cita textos científicos e médicos que afirmam que com a concepção há o início de nova vida humana e uma mudança fundamental com a criação de um ser com 46 cromossomos.

Após a fecundação não há presença de nenhum agente exterior que mude o organismo recém-concebido em algo que seja diferente. Pelo contrário, o embrião humano se auto-desenvolve para futuras etapas.

“Fazendo uma analogia, o embrião humano não é um mero modelo detalhado da casa que se construirá, mas uma casa minúscula que se faz cada vez maior e mais complexa, através de seu auto-desenvolvimento ativo para a maturidade”, esclarece o autor.

Após isso, os últimos capítulos do livro analisam alguns argumentos utilizados pelos defensores do aborto. Examina-os um por um, mostrando suas debilidades.

Por exemplo, tem-se sustentado que, posto que nas primeiras etapas há a possibilidade de que haja uma divisão em dois irmãos, o embrião não é um ser humano individual. Kaczor rebate isso dizendo que, ainda que se possa dividir em dois seres, isso não significa que não seja um ser individual.

Ele comenta que a maioria das plantas pode dar lugar a mais plantas individuais, mas isso não significa que uma planta não possa ser uma planta individual e diferente.

O autor analisa também alguns casos difíceis como as gravidezes resultado de violação ou incesto. A personalidade do feto, insiste Kaczor, não depende da forma como foi concebido. “És o que és, sem importar as circunstâncias de tua concepção e nascimento”, afirma.

O livro de Kaczor, como uma argumentação sólida, contém muitos raciocínios cuidadosamente elaborados, o que o torna uma valiosa fonte de inspiração para os que lutam por defender a vida humana.

CARDEAL DAMASCENO TOMA POSSE EM IGREJA ROMANA

O cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida (Brasil), tomou posse neste domingo (3) como titular da Igreja da Imaculada Conceição e São João Berchmans, na Via Tiburtina, em Roma. A celebração eucarística de posse aconteceu às 11h (horário de Roma / 6h – horário de Brasília).

Dom Damasceno foi nomeado cardeal pelo Papa Bento XVI no dia 20 de novembro de 2010, durante Consistório realizado no Vaticano. Como cardeal, ele passa a ter o direito de ser o titular de uma igreja em Roma.

A Igreja da Imaculada Conceição e São João Berchmans está confiada à Congregação dos Padres Josefinos e tem como pároco o padre Antônio Molinaro.

Segundo Dom Damasceno, o pároco continuará desempenhando suas funções na igreja. “Eu como titular farei visitas pastorais quando estiver em Roma e celebrarei com a comunidade”.

Durante a celebração eucarística deste domingo, Dom Damasceno fez a entronização de uma imagem fac-simile de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, doada pelo Santuário Nacional, para veneração dos fiéis daquela comunidade.

COMO CHEGAR A SER EXORCISTA HOJE?


Encontro com o autor de O Rito no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum.

O diabo existe? Para o Pe. Gary, sacerdote californiano, a existência do diabo havia sido sempre uma questão puramente teórica, ligada a uma forma arcaica e supersticiosa de viver a fé.

Por isso, quando seu bispo pede que ele vá até o Ateneu Pontifício ‘Regina Apostolorum' de Roma para acompanhar um curso sobre exorcismo, a primeira reação foi de surpresa e de ceticismo.

As aulas, sob a guia de grandes exorcistas, como Gabriele Amorth e Francesco Bamonte, e sobretudo a aprendizagem junto ao Pe. Carmine, exorcista veterano, revolucionando suas ideias confusas e céticas sobre o tema, levam o Pe. Gary a perceber que a presença do Maligno é concreta e muito mais difundida do que se imagina.

Esta é a história contada por Matt Baglio en seu livro semibiográfico: ‘Il rito. Storia vera di un esorcista di oggi' (Editore Sperling & Kupfer Collana). A novela se tornou popular graças também à sua adaptação cinematográfica, no filme "O Rito", dirigido por Mikael Håfstrom.

Dentro de poucos dias, Matt Baglio apresentará sua novela na universidade onde começou a história do livro: o Ateneu Pontifício ‘Regina Apostolorum', em Roma.

"A ideia do livro surgiu quando eu soube dos cursos oferecidos pelo ‘Regina Apostolorum', afirmou Baglio. Como jornalista ‘freelancer', achei que seria uma boa notícia. A única coisa que eu sabia sobre o exorcismo era o que havia visto nos filmes de Hollywood, como ‘O exorcista', e me perguntava como a Igreja ainda podia acreditar nisso."

Portanto, Matt fez a experiência que depois faria seu personagem, o Pe. Gary, também ele californiano. "Acompanhando o curso, percebi que a realidade do exorcismo é muito diferente de tudo o que eu já havia imaginado."

Matt Baglio - e nós com ele - segue, passo a passo, a aprendizagem do Pe. Gary e, com o olhar lúcido do jornalista de investigação, oferece-nos uma reportagem única sobre uma realidade totalmente desconhecida, frequentemente deformada por filmes e novelas, quase sempre inexplicável.

"O Rito" obriga tanto o crente como o cético a considerar de modo totalmente novo a inusitada presença do diabo e, neste sentido, pertence a esse raro e precioso gênero de livros capaz de transformar quem se aproxima dele.

Quando se admite a possibilidade de uma existência superior que tende ao bem, não é difícil acreditar que a personificação do mal possa, em determinadas circunstâncias, manifestar-se.

"A escolha de não acreditar no diabo não o protegerá dele", diz o protagonista, com uma das frases mais marcantes do filme.

Na verdade, a pergunta última que a leitura do livro provoca é a formulada pelo nome do site do filme: "What do you believe?" (Em que você acredita?). Mais informações: www.upra.org; www.unier.it; telefone: (0039) 06.66.54.31 (Alfonso Aguilar, L.C.)